O Mês do Orgulho, que acontece anualmente em junho, “oferece uma oportunidade para celebrar a resiliência, a diversidade e as conquistas dos indivíduos LGBTQIAP+”, indica um artigo das Nações Unidas sobre o tema. E as pessoas assexuais estão entre elas.
A entidade governamental é uma das que promove mundialmente “a luta contínua por igualdade plena, dignidade e reconhecimento” por parte dos indivíduos que se identificam com orientações sexuais diversas, representadas pela sigla LGBTQIAP+, que está em constante evolução.
Seu significado abarca as seguintes designações, respectivamente: lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais e pansexuais. Já o símbolo "+" serve para indicar que ainda existem mais identidades e expressões não contempladas pela sigla.
Muitas dessas identidades ainda precisam ser esclarecidas publicamente, já que os debates de gênero vêm evoluindo a cada ano. Uma delas é a dos assexuais, uma comunidade que tem se “autodescoberto” recentemente e já aparece sendo representada em filmes, novelas e séries.
Por ocasião do Dia Internacional do Orgulho, celebrado em 28 de junho em decorrência dos Distúrbios de Stonewall (ou Revolta de Stonewall), National Geographic entrevistou um especialista para esclarecer o que significa ser assexual, quem se identifica com essa orientação e como uma pessoa saber se está no espectro da assexualidade.
“Muitas pessoas assexuais sentem afeto, amor romântico, desejo de intimidade emocional — apenas não experienciam (ou experienciam muito pouco) o desejo sexual como a maioria das pessoas”, explica o especialista em sexualidade.
De acordo com o médico Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e terapeuta sexual pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), a assexualidade é uma orientação sexual reconhecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria.
“Na assexualidade o indivíduo experimenta pouca ou nenhuma atração sexual por outras pessoas, independentemente de gênero", explica. “Isso não significa que a pessoa não possa ter relacionamentos afetivos, vínculos profundos ou até mesmo relações sexuais — mas a motivação sexual não está presente ou não é predominante para ela", diz.
O especialista ressalta que é importante entender que assexualidade não é a mesma coisa que abstinência sexual, celibato ou repressão. “Trata-se de uma forma autêntica de vivenciar a sexualidade”, afirma.
“Muitas pessoas assexuais sentem afeto, amor romântico, desejo de intimidade emocional — apenas não experienciam (ou experienciam muito pouco) o desejo sexual como a maioria das pessoas”, indica Perin.
Neste contexto, é importante entender que diferentes orientações sexuais “não constituem um transtorno e são consideradas apenas variações entre as várias possibilidades da sexualidade humana", destaca o médico.
O especialista indica também que, dentro do espectro assexual, existem nuances. Entre elas estão:
Diante dessas manifestações da assexualidade, o Dr. Eduardo Perin conta que “o comportamento de uma pessoa assexual pode ser muito semelhante ao de qualquer outra — exceto pelo fato de que o impulso sexual não é um motor relevante nas suas relações interpessoais”.
A foto mostra a Parada do Orgulho realizada em São Paulo, em 2014, e que é considerada a maior em número de participantes, na América Latina. Manifestações como estas visam “celebrar a resiliência, a diversidade e as conquistas dos indivíduos LGBTQIAP+”, como informam as Nações Unidas.
“O reconhecimento da assexualidade costuma surgir a partir de uma sensação de desalinhamento com as expectativas culturais em torno do desejo sexual”, explica o médico.
“A pessoa pode perceber que, enquanto todos ao seu redor falam sobre atração sexual, fantasias ou impulsos, ela simplesmente não sente o mesmo — e nunca sentiu”, continua Perin.
O especialista indica alguns passos que usualmente recomenda em clínica para quem está se perguntando “se é assexual ou não”. Eles seriam:
“Assim como qualquer outra orientação sexual, a assexualidade pode ser estável ao longo da vida ou sofrer mudanças, dependendo da trajetória única de cada indivíduo", alerta o médico.
Segundo ele, algumas pessoas podem se reconhecer assexuais desde a juventude e mantêm esse entendimento com clareza durante toda a vida, explica ele, quanto outras “podem se identificar dessa forma depois de muita reflexão, especialmente se passaram anos se sentindo ‘fora do lugar’, em uma cultura onde o sexo é frequentemente central”, detalha o psiquiatra.
“Há também casos em que a identificação muda ao longo do tempo", conta ele, como por exemplo quando uma pessoa “inicialmente se vê como assexual, mas depois percebe que está dentro do espectro demissexual”, diz. “Isso não invalida a assexualidade, mas reforça que a sexualidade humana é fluida e complexa”.
O especialista faz uma última ressalva e avisa que é preciso cuidado para não confundir os termos “assexual” com “assexuado ou assexuada”. Segundo ele, essa segunda definição é errônea para se dirigir à orientação sexual das pessoas, já que significa falta de sexualidade, o que não condiz com a natureza humana.
“É fundamental que a sociedade ofereça espaço e escuta para que cada pessoa possa explorar e nomear sua experiência, sem pressa ou imposição”, completa Perin.