

O salário do ex-piloto da Táxi Aéreo Piracicaba (TAP) Mauro Mattosinho foi pago diretamente pela fintech BK Instituição de Pagamento S.A. — também conhecida como BK Bank —, apontada pela Polícia Federal como peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro do PCC. A ligação entre o banco e a facção foi revelada na megaoperação da PF e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que atingiu a Faria Lima, em agosto.
O ICL Notícias teve acesso aos comprovantes de pagamentos realizados pela BK Bank na conta de Mattosinho nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto de 2024, totalizando R$ 58,3 mil.
A reportagem questionou a instituição financeira sobre os repasses, mas não obteve retorno. Já a TAP informou que não irá se pronunciar.
De acordo com as investigações, a BK Bank “é amplamente utilizada pela organização criminosa, inclusive por usinas sucroalcooleiras e distribuidoras ligadas ao grupo, para ocultar a origem e destino de valores, utilizando ‘contas bolsões’ que inibem o sistema antilavagem de capitais”.
“No começo, tive alguns pagamentos vindos do BK. Depois, o Epaminondas começou a me pagar de contas variadas, de empresas dele. Eu era registrado com salário de R$ 3 mil, R$ 4 mil e o restante era direto na conta”, contou Mattosinho, que trabalhou na TAP de novembro de 2023 a setembro deste ano.
A empresa de táxi aéreo está oficialmente registrada no nome da mãe de Epaminondas Chenu Madeira. O empresário e também piloto, no entanto, é quem toca os negócios.
Reportagem publicada pelo ICL Notícias em parceria com o UOL na quinta-feira (18), mostrou as ligações da TAP com pessoas e fundos de investimentos que foram alvos da operação contra o esquema de lavagem do PCC. São elas: Mohamad Hussein Mourad, mais conhecido como “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, apontados como líderes do esquema; e o advogado Rogério Garcia Peres, controlador da gestora de fundos Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.
De acordo com as investigações, “diversas empresas e indivíduos vinculados ao grupo investigado, liderado por Mohamad Hussein Mourad, mantêm conexões financeiras significativas com a BK”. Além disso, os investigadores apontaram “responsabilidade” de Rogério Garcia Peres “nas dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”.
Por meio de nota, a Altinvest e Peres negaram “qualquer relação com a BK Bank”. “Rogério Garcia Peres possui reputação ilibada e sólida carreira jurídica e no mercado financeiro”, diz a nota, acrescentando: “Rogério reitera que nunca manteve relação com o crime organizado, está colaborando integralmente com as autoridades e confia que os fatos serão esclarecidos pelas instâncias responsáveis”.
A defesa de “Primo” informou que não irá se manifestar e o advogado de “Beto Louco”, Celso Vilardi, não retornou os contatos da reportagem.
Mauro Mattosinho
Em entrevista ao ICL Notícias, Mattosinho contou que, a serviço da TAP, transportou “Primo” e “Beto Louco” ao menos 30 vezes. Segundo o piloto, ambos seriam sócios ocultos de Epaminondas na compra de jatinhos operados pela empresa.
A TAP afirmou, por meio de nota, que “não tinha conhecimento do envolvimento de investigados na Operação Carbono Oculto até sua deflagração” e que atua “em observância à lei”. “Por fim, não pode fornecer informações sobre clientes ou passageiros sem autorização destes ou por requisição das autoridades competentes”, acrescentou.
Além de administrar a TAP, Epaminondas é sócio de outras duas empresas de táxi aéreo: a ATL Airlines e a Aviação Alta.
Documentos públicos mostram que a ATL Airlines e a Aviação Alta são cotistas da Capri Fundo de Investimento em Participações, que tem como representante legal Rogério Garcia Peres, apontado como “administrador de fundos de investimento, amplamente envolvido com o grupo Mohamad, sócio em postos de combustíveis”.
Segundo o MP-SP, Peres também seria o controlador da Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros. A gestora aparece como administradora do fundo Capri em um relatório de demonstração financeira de 2024, registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com o nome Ruby Capital Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.
A reportagem apurou, no entanto, que o CNPJ registrado no documento com este nome é o mesmo da Altinvest, alvo da Operação Carbono Oculto.
Por meio de nota, a Altinvest destacou que “repudia veementemente qualquer tentativa de associação de seu nome ou de seus gestores a atividades ilícitas”. A empresa ressaltou que não administra nenhum fundo que “possui relação com aeronaves”; que o fundo Capri não está sob sua administração; e que atua em conformidade com a legislação brasileira e com as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).
Além disso, a Altinvest informou que Rogério Garcia Peres não é sócio de postos de combustíveis, tendo apenas investido em imóveis da BR Distribuidora e que as atividades do empresário são conduzidas “dentro da legalidade”.