Desde 1974, a cada 5 de junho, celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente – data instituída pela Organização das Nações Unidas para reforçar a importância do Meio Ambiente e reforçar a necessidade de ações coletivas globais para reverter e solucionar os problemas ambientais do planeta, como o desmatamento.
À medida que o mundo busca desacelerar o ritmo das mudanças climáticas, preservar a vida selvagem e sustentar mais de oito bilhões de pessoas, as árvores inevitavelmente representam uma parte importante da resposta.
No entanto, a destruição em massa de árvores – que define o desmatamento – continua, sacrificando os benefícios de longo prazo das árvores em pé em troca de ganhos de curto prazo em combustível e materiais para fabricação e construção.
Precisamos das árvores por vários motivos, entre eles o fato de elas absorverem o dióxido de carbono que exalamos e os gases de efeito estufa que retêm o calor emitidos pelas atividades humanas. À medida que esses gases entram na atmosfera, o aquecimento global aumenta, uma tendência que os cientistas preferem chamar de mudança climática.
Há também o perigo iminente de doenças causadas pelo desmatamento. Estima-se que 60% das doenças infecciosas emergentes venham de animais, e uma das principais causas deste salto dos vírus da vida selvagem para os seres humanos é a perda de habitat, geralmente por meio do desmatamento.
Mas ainda podemos salvar nossas florestas. Esforços agressivos para reflorestar já estão mostrando sucesso. A cobertura de árvores tropicais sozinha pode fornecer 23% da mitigação climática necessária para atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris em 2015, de acordo com uma estimativa.
Vista aérea de terra desmatada para plantações de palma. As florestas são derrubadas para dar lugar à produção de óleo de palma no sudeste da Ásia.
As florestas ainda cobrem cerca de 30% da área terrestre do mundo, mas elas estão desaparecendo em um ritmo alarmante. Desde 1990, o mundo perdeu mais de 420 milhões de hectares de floresta, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – principalmente na África e na América do Sul.
Cerca de 17% da Floresta Amazônica foi destruída nos últimos 50 anos, e as perdas recentes têm aumentado. A organização Amazon Conservation informa que a destruição aumentou em 21% em 2020, uma perda do tamanho de Israel, por exemplo.
A agricultura, o pastoreio de gado, a mineração e a perfuração combinados são responsáveis por mais da metade de todo o desmatamento no mundo. As práticas florestais, os incêndios florestais e, em pequena parte, a urbanização são responsáveis pelo restante.
Na Malásia e na Indonésia, as florestas são derrubadas para dar lugar à produção de óleo de palma, que pode ser encontrado em tudo, desde xampu até biscoitos salgados. Na Amazônia, a criação de gado e as fazendas – especialmente as de plantações de soja – são os principais culpados pelo desmatamento.
As operações de extração de madeira, que fornecem os produtos de madeira e papel para o mundo, também derrubam inúmeras árvores todos os anos. Os madeireiros, alguns deles agindo ilegalmente, também constroem estradas para acessar florestas cada vez mais remotas, o que leva a um maior desmatamento. As florestas também são cortadas como resultado da crescente expansão urbana, à medida que a terra é desenvolvida para a construção de casas.
Porém, nem todo desmatamento é intencional. Alguns são causados por uma combinação de fatores humanos e naturais, como incêndios florestais e pastoreio excessivo, que podem impedir o crescimento de árvores jovens.
Em todo o mundo, cerca de 250 milhões de pessoas vivem em áreas de floresta e savana e dependem delas para subsistência e renda, sendo que muitas delas fazem parte da população rural pobre do planeta.
Cerca de 80% dos animais e plantas terrestres da Terra vivem em florestas, e o desmatamento ameaça muitas espécies como o orangotango, o tigre de Sumatra e muitas espécies de pássaros, entre muitos outros. A remoção de árvores priva a floresta de partes de seu dossel, que bloqueia os raios solares durante o dia e retém o calor à noite. Essa interrupção leva a oscilações de temperatura mais extremas que podem ser prejudiciais a plantas e animais.
Com os habitats selvagens destruídos e a vida humana em constante expansão, cada vez mais a linha entre as áreas animal e humana se torna mais tênue, abrindo a porta para doenças zoonóticas. Em 2014, por exemplo, o vírus Ebola matou mais de 11 mil pessoas só na África Ocidental depois que morcegos frugívoros transmitiram a doença a uma criança que estava brincando perto de árvores onde os morcegos se empoleiravam.
Alguns cientistas acreditam que pode haver até 1,7 milhão de vírus atualmente “não descobertos” em mamíferos e aves, dos quais até 827 mil podem ter a capacidade de infectar pessoas, de acordo com um estudo de 2018.
Os efeitos do desmatamento vão muito além das pessoas e dos animais onde as árvores são cortadas. A floresta tropical sul-americana, por exemplo, influencia os ciclos hídricos regionais e talvez até globais, e é fundamental para o abastecimento de água nas cidades brasileiras e nos países vizinhos.
Na verdade, a Amazônia ajuda a fornecer água inclusive para alguns dos produtores de soja e fazendeiros de gado que estão desmatando a floresta. A perda de água limpa e da biodiversidade de todas as florestas pode ter muitos outros efeitos que não podemos prever, afetando até mesmo a sua xícara de café matinal.
Em termos de mudanças climáticas, o corte e a destruição de árvores acrescenta dióxido de carbono ao ar e remove a capacidade de absorver o dióxido de carbono existente. Se o desmatamento das florestas tropicais fosse um país, de acordo com o World Resources Institute, ele ocuparia o 3º lugar em emissões equivalentes de dióxido de carbono, atrás da China e dos Estados Unidos.
Os números são desanimadores, mas muitos conservacionistas veem motivos para ter esperança. Está em andamento um movimento para preservar os ecossistemas florestais existentes e restaurar a cobertura arbórea perdida, primeiramente por meio do reflorestamento (replantio de árvores) e, por fim, da rewilding (também chamado em português de “renaturalização”), que é uma missão mais abrangente para restaurar ecossistemas inteiros.
Organizações e ativistas estão trabalhando para combater a mineração e a extração ilegal de madeira – como o explorador da National Geographic, Topher White, por exemplo, criou uma maneira de usar telefones celulares reciclados para monitorar motosserras.
Na Tanzânia, os moradores de Kokota plantaram mais de 2 milhões de árvores em sua pequena ilha ao longo de uma década, com o objetivo de reparar danos anteriores. E, no Brasil, os conservacionistas estão se mobilizando diante dos sinais ameaçadores de que novas leis podem reverter as proteções florestais.
Interromper o desmatamento antes que ele atinja um ponto crítico desempenhará um papel fundamental para evitar a próxima pandemia zoonótica. Um estudo realizado em novembro de 2022 mostrou que, quando os morcegos lutam para encontrar um habitat adequado, eles se aproximam das comunidades humanas, onde há maior probabilidade de propagação de doenças.
Inversamente, quando os habitats nativos dos morcegos foram deixados intactos, eles ficaram longe dos humanos. Essa pesquisa é a primeira a mostrar como podemos prever e evitar o contágio por meio do monitoramento e da manutenção dos habitats da vida selvagem.
Para os consumidores, faz sentido examinar os produtos e as carnes que você compra, procurando fontes produzidas de forma sustentável sempre que possível. Grupos sem fins lucrativos, como o Forest Stewardship Council e a Rainforest Alliance, certificam produtos que consideram sustentáveis, enquanto o World Wildlife Fund tem um cartão de pontuação de óleo de palma para marcas de consumo.